Zoe (Jennifer Lopez) era um quadro de sucesso que optou por investir numa loja de animais. A estabilidade económica faz com que a protagonista possa viver dos rendimentos proporcionados pela venda dos pequenos companheiros do homem, porém a estabilidade financeira não se revela suficiente para atingir o equilíbrio. A protagonista de Plano B…ebé (The Back-Up Plan) nunca conseguiu ter uma relação estável que lhe permitisse ter filhos. A solução do problema poderia passar pela adopção, mas a protagonista opta pelo “milagre”da genética. A reprodução medicamente assistida é uma imagem rica, mesmo quando é explorada da forma mais fácil, a explícita. Um só plano revela as pernas de Jennifer Lopez erguidas em V , enquanto espera que a semente aterre em solo fértil. Todo o erotismo é aniquilado, mas o que se perde em tensão sexual, ganha-se em gargalhada.
Porém, a linha de força do filme não se prende tanto com o facto de uma mulher querer ser mãe solteira sem necessitar de ter qualquer compromisso. Esta é revelada depois de Zoe saber que está grávida. O terror pelo compromisso é substituído por Stan (Alex O’Loughlin), um produtor de queijo que alia aos escassos atributos intelectuais (do ponto de vista académico) o parco poder financeiro. Enquanto ela vive atrás dos desejos de grávida, Stan assume o papel que socialmente é atribuído à mulher. Ele vai ao parque falar com outros pais para poder perceber melhor as fases de crescimento dos futuros filhos encomendados por Zoe, trata de arranjar uma forma de emagrecer o carrinho de bebé demasiado obeso para entrar no apartamento. Ele, o homem, neste filme, não detém o poder económico. Não decide, apenas reage e garante que saberá tratar da família. Plano B…ebé teria uma narrativa machista se o protagonista (certamente que teríamos de esquecer o processo de inseminação) fosse Stan?
A tasca é um lugar complexo. Não se deixem enganar pela aparente banalidade das conversas, ou pelo inconsequente ruído atirado pela televisão, em que o ecrã grita mais alto do que as colunas. No estabelecimento do César todas as palavras são importantes. Enquanto a colher agride o pires, e este dá uma palmada nas longas costas do balcão frigorífico, os homens substituem os mais notáveis comentadores com opiniões tão escorregadias como óleo depositado no grelhador. O enredo da telenovela substitui o jornal da tarde. O Papa e o SLBenfica, que fizeram esquecer a crise, também se tornam pequenos perante o enredo da novela que conta a história de uma qualquer família mafiosa brasileira, que tem um comportamento italiano. Com o cotovelo bem apoiado sobre o balcão, uns sussurram a palavra “bandido”, outros optam, ou por um som acetinado e dizem “malandro”, ou pela acústica virtuosa da palavra “vigarista”.
– Isto só ensina coisas para a bandidagem. Depois querem que não haja assaltos. Já agora, ó César, dá-me cá uma ferradura
-Vais comer isso com Whisky?
-Apetece-me, pá
-Epá, estás mesmo a precisar duma.
Na faculdade, uma alcunha (assessor) surgiu sem nenhuma explicação lógica. Hoje, fruto do acaso, alguém que trabalha numa publicação periódica telefonou-me, de madrugada, não com o Objectivo de me vender uma assinatura, mas com o propósito de falar com o assessor de Luís Filipe Menezes.
Tive direito a um Up In The Air só para mim. As personagens eram em menor número, os diálogos menos artísticos e o Clooney estava de baixa, uma constipação segundo o substituto. Infelizmente, não tive o privilégio de ouvir que “todos os grande homens passaram por uma situação semelhante”. 🙂
Pouco dançável, poema sem conteúdo e refrão tão repetitivo como o pregão das mulheres que caminham descalças pelos areais a anunciar a promoção do nogat. Somam-se os anos, mas o preço e a poesia mercantil mantem-se. O hit não triunfa na forma, mas a mensagem é tão persistente como uma nódoa de ameixa. Não desgruda do tecido cerebral: “you’re my heart you’re my soul”
Cuidado amiguinhos do farmville, um estudo da Universidade do Arkansas assegura que 1 por cento dos fazendeiros virtuais podem contrair encefalopatia espongiforme. Os restantes 99 por cento apenas estão condenados a imitar a bicharada.
Os tabuleiros percorrem uma estreia estrada nacional metálica. À janela, os copos e os talheres têm uma visão privilegiada da paisagem. Primeiro, surge o pantanosa estrutura da carne de vaca, bem nervosa, refogada por espesso tecido efluente, seguido pelo escarpado paste bacalhau e terminando numa brilhante praia dourada cortada aos palitos. A imagem idílica do refeitório segue com os braços esticados e cabeça rodopiante à procura de espaço para o repasto. À mesa, os do costume. Em ruído de fundo fala-se sobre Orçamento do Estado e resultados da bola. O tema está na ordem do dia, mas nem só a política é notícia. Afinal, o ser humano é poliédrico. Fora do jogo das quatro linhas dedicadas ao desafio politico- partidário alguém fez uma pergunta desarmante: “Como é que é feito o fiambre?” Não sei. Limito-me a constatar que é fatiado.